meta name="robots" content="noindex" /> Contraculturalmente: outubro 2006



OUTROS CULTOS 17: CALOTAS

terça-feira, outubro 31, 2006
Como Portugueses, três aspectos nos distinguem das demais nações. O primeiro aspecto é a eterna melancolia na qual estamos envolvidos. O fado, a saudade, o saudosismo... Não há por esse mundo fora outro povo que se entregue com alma e coração a estes sentimentos, que os abrace e guarde com tanta ternura como nós. O Segundo, a nossa história. Existimos oficialmente como nação desde 1143, apesar de o nosso território ter sido alvo de imensas conquistas e reconquistas desde há pelo menos 5000 anos. A nossa história é forte, é inegável, é nossa! O Terceiro, a variedade, complexidade e uso abusivo de palavras aumentadas sinteticamente utilizando o sufixo "ões". Palavrões, portanto.

Em Faro, estes 3 aspectos reúnem-se em harmonia no café Bombordo. Situado bem no centro do núcleo histórico da capital algarvia, a Vila Adentro, perto da estátua de D. Afonso III, o rei que tomou o Algarve aos mouros, o Bombordo resiste ao avanço galopante do turismo que invade o sotavento algarvio esgotados que estão os recursos do barlavento. Uma réstia de Portugalidade e tipicidade, lutando ingloriamente contra o seu destino...

Uma esplanada com mesas e cadeiras de plástico, espaço fechado com 4 metros quadrados, especializado em Sagres, Super Bock e Carlsberg, o Bombordo, longe de ser uma taberna como outra qualquer, destaca-se das demais pelo atendimento e serviço prestado pelo seu proprietário, de tal modo que o café em si é conhecido não pelo seu nome de baptismo mas sim por outro bem mais apropriado: o Calotas!





O Calotas é conhecido por tratar todos os seus clientes por igual, não olhando a raça, credo ou sexo. Não interessa se é o Zé das Couves ou o Pedro Miguel Ramos, o Calotas não faz distinção entre clientes. Dali, toda a gente sai insultada! TODA! Recordo aqui com alguma saudade a minha primeira experiência no Calotas, sem qualquer aviso prévio daquilo que me esperava:

- Quero uma cerveja...

- Vai buscar, caralho!

- Vou buscar? Como assim?

- És burro ou comes merda? Vai buscar a puta da cerveja à puta da arca, caralho!

Amor à primeira vista. A partir daí, todas as vezes que visitei o Bombordo, sou insultado de formas cada vez mais originais, o que me faz ter sempre vontade de voltar. Da última vez, o Calotas deu-me uma lição de civismo, misturando regras de etiqueta com ameaças à minha integridade física. Uma experiência extra-sensorial. O Bombordo está sempre cheio, mesmo em noites frias e chuvosas, o que me leva a crer que não seja o único a encarar os mimos distribuídos aleatoriamente pelo Senhor Calotas como elogios gratificantes! Ninguém sai dali magoado, e o próprio comportamento do proprietário é fomentado e encorajado pela sua clientela.

Encarem este post como um aviso ou um convite.

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FILME DE CULTO 17: ATAQUE DOS TOMATES ASSASSINOS

sexta-feira, outubro 27, 2006
Attaaaaaaaack of the killer tomatoes!
Attaaaaaaaack of the killer tomatoes!
They'll beat you, bash you,
Squish you, mash you,
Chew you up for brunch,
And finish you off, for dinner and lunch!

O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of The Killer Tomatoes, no original) é um clássico de série-B de 1978. Quando se fala de filmes terrivelmente maus, muitos são os que o usam como referência. Porém, quantos de vós viram realmente este filme? Eu próprio, que me assumo como tarado por filmes de baixa qualidade e orçamento nulo só mesmo muito recentemente tive a oportunidade de analisar as complexidades filosóficas desta obra. Segue-se resumo breve e sucinto da minha experiência com os Tomates Assassinos:



Objecto de estudo: Attack of the Killer Tomatoes (2 Disc Special Collectors Edition)

Tentativa #1

Dia: Quarta-Feira à tarde

Estado: Ressacado

Análise: Muito barulho, muito tomate, muita histeria, muita música de fundo, muita cantoria, muito sono, pouca paciência para tomates.

Veredicto: Sofá 1 Tomates Assassinos 0




Tentativa #2

Dia: Terça-Feira à noite

Estado: Cansado, mas desperto

Análise: O mundo vê-se a braços com um ataque planeado por tomates, que atacam indiscriminadamente toda a raça humana. Um grupo de cientistas altamente qualificados é designado para estudar a melhor maneira para erradicar o problema, e concluem que a solução passa por destruir os tomates a tiros de caçadeira. Mas como evitar uma hecatombe quando até o próprio sumo de tomate se revela letal? Nada melhor do que juntar uma task force de profissionais! Incluídos nesta equipa temos um mergulhador, um paraquedista, uma atleta que come cereais chamados "Steroids" ao pequeno almoço, e um mestre do disfarce com a missão de se vestir de tomate e infiltrar-se no acampamento inimigo. Tudo se revela infrutífero, até se descobrir que a única forma de dominar os tomates é através de uma canção ("Puberty Love" é o seu nome) verdadeiramente insuportável, tanto para fruta com pretensões a vegetal como para seres humanos (e espectadores).




O Ataque dos Tomates Assassinos está carregado de um amadorismo enternecedor. Os actores não têm noção de timing, alguns diálogos são (mal) dobrados, e os ataques que dão nome ao filme são inacreditáveis. No início da película, os tomates são vulgares, iguais aos que comemos na salada. Simplesmente rebolam para perto das vítimas, resmungando. A vítima grita, o tomate resmunga, a vítima cai para o chão, o tomate sobe para cima da vítima. Ataque consumado! Mais tarde, os seres maléficos evoluem, e tornam-se bolas vermelhas de papel celofane, resmungando ainda mais alto e rebolando mais rapidamente (graças a um complicado sistema de rodinhas e fios de nylon)! Em alguns dos ataques, é perfeitamente visível que os tomates estão a ser atirados para cima dos actores. Metade do orçamento deste filme foi gasto na mercearia. O restante foi utilizado para pagar o helicóptero emprestado que se despenha logo no início do filme, quase matando o actor principal e a equipa técnica.

A edição especial vem carregada de extras bem interessantes. Encontra-se nesta secção uma curta metragem de 8 milímetros que deu origem ao filme, uma visão sobre o que aconteceu aos actores passados quase 30 anos da sua estreia (o chefe da task force é agora dono de uma suinicultura, e Matt Cameron, que canta a inacreditavelmente irritante "Puberty Love", tornou-se no baterista dos Pearl Jam) e um peculiar documentário baseado na tentativa de impedir a criação deste filme por parte do governo dos Estados Unidos, bem antes de se começarem a produzir alimentos alterados geneticamente, entre muitas outras guloseimas.

Veredicto: Ataque dos Tomates Assassinos não se limita a ser estúpido. Ataque dos Tomates Assassinos eleva a estupidez a um patamar nunca antes alcançado! A estupidez de Ataque dos Tomates Assassinos chega a ser insultuosa! O Ataque dos Tomates Assassinos é o teste cooper da estupidez! Assistir aos 83 minutos de Ataque dos Tomates Assassinos pode tornar-se numa experiência transcendente, onde os limites da estupidez lutam constantemente com os da paciência. Ladrões de mercearias tornam-se budistas após o visionamento do Ataque aos Tomates Assassinos. O Ataque dos Tomates Assassinos deveria ser mostrado nos ciclos preparatórios em campanhas de prevenção contra a violência escolar.

É mau, e no entanto, hipnotizante e magnético. Filme obrigatório!

Excerto:

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MÚSICA DE CULTO 17: DAMIEN JURADO

quarta-feira, outubro 25, 2006
A beleza de se ter um blog é que podemos planear o que queremos fazer dele, quando queremos. Escolhemos um tema, arrumamos as ideias na cabeça, definimos o que queremos escrever, e quando finalmente temos algum tempo para meter mãos à obra, acabamos por não fazer nada daquilo que pensámos fazer. De que vale estar um mês a planear um post quando, no dia que definimos para o redigir, acordamos com vontade de escrever algo completamente diferente?

Tudo isto para dizer que hoje era para estar aqui um post relacionado com outra banda. Acontece que acordei com a música de Damien Jurado na cabeça, de modo que não vejo outro remédio senão libertá-la aqui...



Damien Jurado é um contador de histórias mascarado de singer-songwriter. Originário da chuvosa Seattle, Jurado imprime às suas criações o cinzentismo próprio do ambiente em que vive, com alguns (poucos) rasgos de luminosidade aqui e ali, predominando a guitarra acústica tocada com cuidado e primor. A sua peculiar voz e estilo musical valem-lhe a comparação ao grande Nick Drake, cuja influência Damien não nega, ao colocar recentemente na internet uma soberba versão do clássico de Drake, Pink Moon.

Damien Jurado possui de momento 8 albuns no seu curriculum, sendo o mais recente And Now That I'm In Your Shadow, editado este mês. Destaco da sua discografia duas obras, por razões distintas:



Rehearsals For Departure, de 1999, é um album sobre relações humanas. Sobre as pessoas com quem vivemos, com quem crescemos, com quem nos cruzamos na rua, com quem criámos laços de amizade e amor. E sobre a fragilidade desses laços, de como tendem a partir-se. Um album acústico, simples, um tanto ou quanto amador, mas muito bonito, especialmente a nível lírico. O disco perfeito para reler cartas de amor antigas e rever fotografias de outros tempos em que tudo o que fazia sentido na altura deixou entretanto de o fazer. Destaque natural para Ohio, a primeira faixa, sobre uma jovem adulta que havia sido raptada pelo pai em pequena e deseja regressar para casa da sua mãe, no longínquo estado de Ohio.

Aprecio Rehearsals For Departure pela carga emocional que carrega na minha vida. Este foi o primeiro disco de Damien Jurado que me foi dado a ouvir, emprestado por uma pessoa com quem partilhei uma forte amizade mas que neste momento já não se encontra no meu restrito círculo de amigos. Lá está, laços partidos...

Por ser extremamente difícil de adquirir (só agora finalmente o encontrei, após anos de busca, graças à maravilhosa Alquimia), recomendo também o seu album de 2005:



On My way To Absence aponta para uma mudança no rumo musical para Damien Jurado, sem no entanto comprometer as suas raízes folk. Por aqui ouvem-se mais guitarras eléctricas e até laivos de electrónica, e liricamente, o desespero vai dando lugar à esperança. Um disco muito relaxante, melancólico sem ser depressivo, tido como o seu melhor até à data. Destaque para Fuel (gosto de músicas simples em viola de caixa), e a agridoce Simple Hello.

Damien Jurado é um artista que no vai ofertando pequenos tesouros quase envergonhados, quando a consistente qualidade do seu trabalho teima em não ser reconhecida. Creio no entanto que se Damien Jurado procura algo na vida, não será com toda a certeza reconhecimento.

Video: Ohio

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Sete canções soltas de Elliott Smith

sábado, outubro 21, 2006
- De Roman Candle (1994), No Name #1;

- De Elliott Smith (1995), Clementine;

- De Either/Or (1997), Say Yes;

- De XO (1998), Bottle Up And Explode;

- De Figure 8 (2000), I Better Be Quiet Now;

- Do album póstumo From A Basement On A Hill (2004), Let's Get Lost;

- Da banda sonora de Good Will Hunting, Miss Misery.



Elliott Smith (6/8/1969 - 21/10/2003)

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BD DE CULTO 17: THE TICK

sexta-feira, outubro 20, 2006
Pergunta-me um amigo há uns tempos, no meio de uma conversa ultra-geek sobre banda-desenhada:

- Se pudesses ser um super-herói, quem serias?

Ao que eu respondi, alto e com convicção:

- The Tick!






- The Tick? O que é isso?

- The Tick era um super-herói que atingiu notoriedade nos anos 90, na altura do boom dos comics norte-americanos. The Tick, que em português significa "o carraça", funcionava como uma paródia a todo esse frenesim de livros de banda desenhada, ao mesmo tempo que prestava homenagem aos grandes ícones da BD, satirizando-os. A personagem ganhou algum culto em seu redor quando as suas aventuras foram transpostas para a uma série de animação e, mais recentemente, para uma outra série com personagens de carne e osso.

- Mas em que é que assentava esse comic?

- Basicamente, The Tick era um tipo vestido com um fato azul de carraça que combatia o crime, juntamente com Arthur, um contabilista envergando um traje de traça. No entanto, combater o crime revelava-se uma tarefa bastante difícil, uma vez que o mundo já se encontrava completamente lotado de super-heróis, que lutavam entre si pela captura dos vilões. Entre eles, existia por exemplo o The Caped Wonder (uma paródia ao Super-Homem, que perdia os poderes se lhe partissem os óculos), The Visible Man (um homem invisível, só que ao contrário), Wonder Maid (a Criada-Maravilha, baseada na Mulher-Maravilha) e The Running Guy (mais rápidos que dez homens rápidos).

A verdadeira força deste livro baseava-se na toada completamente surrealista e disparatada das desventuras deste personagem. Um dos poderes de The Tick era algo chamado "Drama Power", que lhe permitia ganhar um incremento de força à medida que as situações por ele vividas ficavam mais dramáticas. Os seus dentes eram à prova de bala e o herói tornava-se completamente invulnerável à noite, além de possuir um disfarce completamente original que lhe permitia passar despercebido entre a multidão.




- E isso encontra-se por aí?

- Dificilmente. A série original foi publicada originalmente em 1988, e é praticamente impossível de encontrar hoje em dia. No entanto, volta e meia surgem no mercado de importação algumas mini-séries, como por exemplo, a excelente The Tick: Days of Drama, editado pela New England Comics. A primeira temporada da série de animação saiu também recentemente em DVD.

- Hum, tudo isto me parece muito estúpido...

- Ah sim? Então e que Super-herói é que gostavas de ser?

- O Homem-Aranha.

- Então e qual é a diferença entre um homem com poderes de aranha e um com poderes de carraça?

- ...








Na verdade, a conversa decorreu mais ou menos assim:

- Se fosses um super-heróis, quem serias?
- The Tick. Um gajo vestido de carraça tem o seu charme com as meninas. E tu?
- O Homem-Aranha.
-Que falta de originalidade! Bora beber minis...

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Publicidade Descarada ao Cromo dos Cromos

quinta-feira, outubro 19, 2006
Cada vez maior e mais afamado, O Cromo dos Cromos deu mais um passo na sua evolução natural e agora está mais bonito e organizado que nunca. Com novo grafismo, novas funcionalidades, maior aprumo, e os cromos de sempre.




Vale bem a pena visitá-lo, pois, através de www.cromodoscromos.pt.vu

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LITERATURA DE CULTO 17: FILM POSTERS EXPLOITATION

segunda-feira, outubro 16, 2006
O livro que vos apresento hoje dificilmente entra para a categoria de literatura, uma vez que apresenta mais imagens que texto. Ainda assim, não posso deixar de incluí-lo no meu espaço. Encontra-se à venda na Fnac uma belíssima colecção de livros dedicados à fina arte dos posters de cinema. Divididos por décadas, que vão desde os anos 30 aos 70, existem também uns poucos mais específicos, retratando géneros cinematográficos como a ficção científica e o terror. Apesar do preço convidativo (9 euros e 90, uma pechincha), decidi-me por apenas um volume, dedicado à Exploitation.



Film Posters Exploitation é, como o próprio nome indica, uma colecção de posters relacionados com filmes, muitos deles felizmente já esquecidos, que utilizam temas chocantes e alarmistas como carburador, originalmente indo contra os valores morais e tabus da época em que eram criados, até se tornarem num género cinematográfico com mérito próprio nos anos 70. Sexo, delinquência, drogas várias, pedofilia, transformismo e minorias étnicas, eis alguns dos temas mais explorados por tantos realizadores ao longo da história do cinema, prontamente esquecidos na sua grande maioria, tal a falta de qualidade das suas obras. Porém, muitos dos cartazes destes filmes apresentam uma qualidade e uma originalidade largamente superiores aos filmes em si.



O Exploitation, como género, destaca-se dos demais pela quantidade de temas que cada categoria pode albergar. A título de exemplo, dentro da categoria "Sexo" encontramos a tara por seios grandes de Russ Meyer (o tal de Faster, Pussycat, Kill Kill, de 1966), o latex em Slaves in Bondage, de 1937, a esterelização em Tomorrow's Children, de 1934, o clássico transformista de Ed Wood Glen or Glenda, de 1953, as doenças venéreas em Damaged Goods, de 1937, e por aí fora...

Film Posters Exploitation traça a história de todo um género, combatido e censurado desde a sua génese até aos dias de hoje, enquadrando as películas no contexto social em que foram originalmente lançadas, efectivamente e sem moralizar. Alternando entre o belo e o ridículo, pleno em detalhes e pormenores interessantes, (Marijuana, de 1952, protagonizado por... John Wayne?) esta é uma compra enriquecedora para aficionados e curiosos.

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