LITERATURA DE CULTO 6: O LIBERTINO PASSEIA POR BRAGA, A IDOLÁTRICA, O SEU ESPLENDOR
Portugal é um país pequeno, de brandos costumes, como se costuma dizer... O que não impede que não tenhamos o nosso próprio escritor maldito! E esse escritor maldito dá-se pelo nome de Luiz Pacheco...
Pacheco iniciou-se na escrita em 1946, com História Antiga e Conhecida. Antes disso tinha sido agente da Direcção Fiscal de Espectáculos e jornalista em variados matutinos. O seu estilo irreverente era apelidado de “ordinário” e foi em diversas ocasiões perseguido pela PIDE/DGS, chegando mesmo a ser preso. A sua luta contra a censura terminou vitoriosa após o 25 de Abril de 1974. Curiosamente, a sua fama como escritor “difícil” ganhou uma injecção de força momentânea, e os seus livros passaram a ser alvo de um outro tipo de censura, a censura intelectual, empurrando este homem para um estado de semi-anonimato... Porém, ainda hoje, quase cego e carregado de doenças, Luiz Pacheco continua a escrever as suas críticas e os seus romances e contos no seu quarto num lar de terceira idade... Resiste heroicamente contra uma morte inevitável, gozando com todos nós como só ele sabe. Sinto que quando falecer virão imensas figuras públicas dizer que se perdeu um vulto do panorama literário português, que Luiz Pacheco foi o maior, que todos foram os seus maiores fãs... Mas agora ninguém parece importar-se com um velho deixado a apodrecer num lar de idosos...
Hoje, trago-vos O Libertino Passeia por Braga, A Idolátrica, O Seu Esplendor, a obra que eu considero ser a melhor introdução ao imaginário de Luiz Pacheco. Editado originalmente em 1970, O Libertino tornou-se uma ode à sua cidade natal, a famosa cidade dos "três P", e um retrato exacto de Portugal nos anos 60, que, vendo bem as coisas, não mudou assim tanto. O culto à volta desta obra cresceu graças aos Mão Morta, que se basearam neste livro para a música O Divino Marquês.
Esta é a estória curta de um homem gasto e decadente que havia sido libertino nos seus tempos de juventude. Ao ter recebido a visita da morte, e temendo pelo final dos seus dias, o homem resolve sair por Braga para procurar uma moça jovem com a qual se possa satisfazer sexualmente, enquanto distribui livros na sua biblioteca móvel para contribuir para a alfabetização de um país em plena Idade das Trevas. O seu comportamento alterna entre o cão com cio atrás de cadelas e o pedreiro de andaime a mandar piropos a quem passa.
“Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganha-perde da beleza física e no cálculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou.”
A estória é contada na primeira pessoa, em registo de diário. Dá a sensação que tudo isto aconteceu mesmo ao velho Pacheco, e, pelas entrevistas que tive o prazer de ler, não duvido mesmo nada.
Parece que actualmente, O Libertino está fora de circulação, bem como a maior parte das obras mais antigas de Pacheco. Como raramente vi algo deste senhor à venda em livrarias, aconselho a visita a bibliotecas municipais. O Libertino está de certeza na biblioteca de Leiria (foi onde o li pela primeira vez), e na biblioteca de Peniche existe uma antologia poética, sem ordinarices. Caso não estejam interessados em sair de casa e não podem (sobre)viver sem internet mais do que duas horas, podem clicar aqui e ler O Libertino no conforto do vosso lar, totalmente grátis! Neste site existem mais alguns textos da autoria de Luiz Pacheco, portanto, nada melhor do que guardar este site nos favoritos e saboreá-lo em doses pequenas...
Pacheco iniciou-se na escrita em 1946, com História Antiga e Conhecida. Antes disso tinha sido agente da Direcção Fiscal de Espectáculos e jornalista em variados matutinos. O seu estilo irreverente era apelidado de “ordinário” e foi em diversas ocasiões perseguido pela PIDE/DGS, chegando mesmo a ser preso. A sua luta contra a censura terminou vitoriosa após o 25 de Abril de 1974. Curiosamente, a sua fama como escritor “difícil” ganhou uma injecção de força momentânea, e os seus livros passaram a ser alvo de um outro tipo de censura, a censura intelectual, empurrando este homem para um estado de semi-anonimato... Porém, ainda hoje, quase cego e carregado de doenças, Luiz Pacheco continua a escrever as suas críticas e os seus romances e contos no seu quarto num lar de terceira idade... Resiste heroicamente contra uma morte inevitável, gozando com todos nós como só ele sabe. Sinto que quando falecer virão imensas figuras públicas dizer que se perdeu um vulto do panorama literário português, que Luiz Pacheco foi o maior, que todos foram os seus maiores fãs... Mas agora ninguém parece importar-se com um velho deixado a apodrecer num lar de idosos...
Hoje, trago-vos O Libertino Passeia por Braga, A Idolátrica, O Seu Esplendor, a obra que eu considero ser a melhor introdução ao imaginário de Luiz Pacheco. Editado originalmente em 1970, O Libertino tornou-se uma ode à sua cidade natal, a famosa cidade dos "três P", e um retrato exacto de Portugal nos anos 60, que, vendo bem as coisas, não mudou assim tanto. O culto à volta desta obra cresceu graças aos Mão Morta, que se basearam neste livro para a música O Divino Marquês.
Esta é a estória curta de um homem gasto e decadente que havia sido libertino nos seus tempos de juventude. Ao ter recebido a visita da morte, e temendo pelo final dos seus dias, o homem resolve sair por Braga para procurar uma moça jovem com a qual se possa satisfazer sexualmente, enquanto distribui livros na sua biblioteca móvel para contribuir para a alfabetização de um país em plena Idade das Trevas. O seu comportamento alterna entre o cão com cio atrás de cadelas e o pedreiro de andaime a mandar piropos a quem passa.
“Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganha-perde da beleza física e no cálculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou.”
A estória é contada na primeira pessoa, em registo de diário. Dá a sensação que tudo isto aconteceu mesmo ao velho Pacheco, e, pelas entrevistas que tive o prazer de ler, não duvido mesmo nada.
Parece que actualmente, O Libertino está fora de circulação, bem como a maior parte das obras mais antigas de Pacheco. Como raramente vi algo deste senhor à venda em livrarias, aconselho a visita a bibliotecas municipais. O Libertino está de certeza na biblioteca de Leiria (foi onde o li pela primeira vez), e na biblioteca de Peniche existe uma antologia poética, sem ordinarices. Caso não estejam interessados em sair de casa e não podem (sobre)viver sem internet mais do que duas horas, podem clicar aqui e ler O Libertino no conforto do vosso lar, totalmente grátis! Neste site existem mais alguns textos da autoria de Luiz Pacheco, portanto, nada melhor do que guardar este site nos favoritos e saboreá-lo em doses pequenas...
Etiquetas: Literatura, Luiz Pacheco, O Libertino Passeia por Braga A Idolátrica O Seu Esplendor
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novembro 04, 2005
uns tempos vi na RTP 2 um programa (excelente) sobre ele
confesso que desconhecia na totalidade, mas a curiosidade ficou e desde aí tenho procurado, nomeadamente na FNAC por algum escrito dele, e não encontrei.
Finalmente, encontro TUDINHO, aqui
É uma maravilha, este teu espaço
Olha! Obrigado
novembro 06, 2005
Engraçado falares da biblioteca de Leiria... Também já lá vi esse livro... Já ouvi dizer que o homem era / é pedófilo. Ainda assim, é bom ler um escritor maldito de vez em quanto! LOL
novembro 10, 2005
Também vi o documentário do Canal 2! Foi provavelmente o documentário mais interessante e divertido que já vi feito em português! O homem teve mesmo uma vida desgraçada, quando conta o que lhe aconteceu quase parece o Jornal Nacional da TVI! Mas aguçaste-me a curiosidade, ver se leio algumas coisas dele!
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