meta name="robots" content="noindex" /> Contraculturalmente: novembro 2005



OUTROS CULTOS 6: ALQUIMIA

segunda-feira, novembro 28, 2005
Para as pessoas que compram regularmente o Blitz, conhecem certamente a banda desenhada Superfuzz. Nesta página semanal, existe um senhor chamado Paiva, proprietário de uma loja de discos pequena e acolhedora. O Paiva, um saudosista do vinil, é uma personagem simpática que impinge os seus discos preferidos aos seus clientes e afugenta os putos da moda com poderosas descargas de Dark Metal ou algo do género. Pois bem, tudo isto para dizer que conheço o Paiva pessoalmente. Só que o “Paiva” chama-se Carlos Matos e a “Superfuzz” na realidade possui o nome de Alquimia.



A Alquimia é uma pequena loja de discos e acessórios localizada no piso mais baixo do Centro Comercial D. Diniz, em Leiria. Especializada em sons Dark dos mais variados tamanhos e feitios, aqui encontra-se também um pouco de tudo o que é considerado alternativo, ou, se preferirem, “fora do Mainstream”, para além de roupas, pins, DVD, merchandising variado e fanzines de distribuição gratuita.

Quando residia em Leiria, visitava este espaço regularmente, não só para receber o meu exemplar grátis da Mondo Bizarre, mas também para trocar dois dedos de conversa com o proprietário sobre temas musicais do nosso agrado/desagrado. Era sempre um prazer ficar uma horinha a ouvir música nova na companhia de Carlos Matos, e foi neste espaço que me foi dado a conhecer alguns dos albuns que apresento aqui neste espaço, nomeadamente Estradasphere e a música de culto deste mês, Lovage. De referir também que este foi o único estabelecimento onde vi à venda From a Basement on a Hill, o album-póstumo de Elliott Smith.

Assim sendo, recomendo vivamente aos habitantes de Leiria e arredores a visita à Alquimia, bem como o programa de rádio de Carlos Matos (Unidade 304, na Central FM) e o Festival FADE IN, organizado pela “família Alquimia”... Um grande abraço a toda a gente que partilha comigo aquele espaço!

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FILME DE CULTO 6: FASTER PUSSYCAT... KILL! KILL!

terça-feira, novembro 22, 2005
Era uma vez um senhor chamado Russ Meyer. Este homem havia tido o melhor emprego do mundo, fotografando para a revista Playboy, até que se fartou das fotografias e resolveu enveredar por uma carreira no maravilhoso mundo do cinema. Filmou imensos filmes ao longo da sua vida, todos eles marcados pela rebaldaria e humor “kitsch”, mas foi muito perseguido pelas activistas dos direitos das mulheres, que o acusavam de machista, apesar de hoje em dia ser-lhe reconhecido o valor na criação das chamadas Riot Grrls. Ame-se ou odeie-se, há que dizer em sua defesa que Meyer era um homem generoso, preocupando-se sempre com todas as senhoras, especialmente com aquelas possuindo glândulas mamárias altamente desenvolvidas. A sua preocupação era tal que nos seus filmes só entravam meninas com enormes seios, acabando por ser essa a principal razão pela qual o seu nome entrou para a história do cinema. Essa e outra, que dá pelo nome de Faster, Pussycat... Kill! Kill!



Faster, Pussycat... Kill! Kill! (1966), é uma ode à violência e à emancipação da mulher, através da sua sexualidade. As pussycats, três strippers devidamente estereotipadas (temos a mázona vestida de cabedal, a loira tontinha com sentimentos e a emigrante ilegal secretamente apaixonada pela mázona), passeiam pelo deserto nos seus carros desportivos, rindo às gargalhadas sem se perceber muito bem qual é a piada... Entretanto, as meninas param o carro, tomam banho todas vestidas, discutem, andam à pancada umas com as outras, vão ficando semi-nuas... Até que chega um carro com um casal de namorados muito bonitos e arranjadinhos. Depois de dois dedos de conversa e de uma corrida pelo meio do deserto, a mázona do grupo resolve partir a coluna vertebral ao rapaz, drogar a rapariga e raptá-la, continuando o seu passeio pelo deserto rindo sem sentido...



Por esta pequena amostra do argumento, já se sabe que daqui não vem nenhum bom filme. Mas na realidade, Faster, Pussycat... Kill! Kill! é imensamente divertido e inconsequente. Os diálogos são de morrer a rir de tão maus, as cenas sensuais são forçadíssimas, temos violência a rodos, cenas dramáticas e tensas, senhoras atraentes q.b. e actores que não merecem essa designação... Tudo boas razões para irem à Fnac e comprarem este filme na secção de importação sem pensarem duas vezes. Atenção especial à banda sonora e à Pussycat loira, que, apesar de não saber representar, proporciona agradáveis momentos erotico-humorísticos ao longo desta película.



Trailer:

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MÚSICA DE CULTO 6: LOVAGE

terça-feira, novembro 15, 2005
Cenário típico de um jovem entre os 25 e os 35 anos: Sai-se de casa à noite, conhece-se uma jovem atraente do sexo oposto, palavra puxa palavra, toma-se um copo ou dois, e depois diz-se a frase chave: Queres ir tomar um copo lá no meu cantinho? Se a resposta for favorável, o jovem está bem lançado para obter uma vitória no eterno jogo da conquista... Agora só falta criar o ambiente ideal... Uma garrafa de bom vinho tinto, velas acesas, e um cd de música de cama a tocar na aparelhagem... Normalmente Kenny G, Céline Dion ou Michael Bolton!

Porém, música de cama não é sinónimo de mau gosto! Todos conhecemos concerteza exemplos de albuns que libertam paixões arrebatadoras e proporcionam momentos agradáveis, sendo ao mesmo tempo óptimos albuns para ouvir no dia-a-dia. Apresento-vos Nathaniel Merriweather...



Nathaniel Merriweather é, apenas e só, Dan The Automator, (esse mesmo, dos Gorillaz)... Ou melhor, Nathaniel Merriweather é o mentor de um projecto editado em 2001, intitulado Lovage: Music to Make Love To Your Old Lady By... O melhor album de música de cama que já tive a oportunidade de ouvir!

Merriweather produz e sampla um ambiente extremamente sensual, de enorme bom gosto, apesar dos títulos infelizes de algumas músicas (Herbs, Good Hygiene & Socks, por exemplo) adornado pelas vozes de Jennifer Charles (dos Elysian Fields) e Mike Patton (será mesmo necessário explicar quem é?). As vozes de ambos os vocalistas dançam e provocam-se mutuamente, o erotismo cresce a cada batida, a cada gemido, a cada provocação lançada pelo casal... Ouvindo o album quase que parece que tanto Mike como Jennifer estão prestes a largar os microfones no chão e a atirar-se para cima um do outro...

Para além de Patton e Charles, também Damon Albarn (parceiro de Dan The Automator nos Gorillaz) e Africa Bambaataa dão um ar de sua graça, mas os verdadeiros protagonistas são mesmo os vocalistas principais!

Destaque para a música Sex (I’m a), versão de um tema os Berlin... O jogo de sedução levado ao extremo!



Sim, a capa de Lovage é ridícula, propositadamente Camp, mas o que interessa é mesmo o seu conteúdo. Uma curiosidade, esta capa é uma homenagem a este grande cantor de música de cama...



E Lovage resulta, perguntam vocês? A resposta é sim, resulta... E como resulta!!!!!

I Love The Lovage, baby!

Video: Book of the Month

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BD DE CULTO 6: O HOMEM QUE CAMINHA

quarta-feira, novembro 09, 2005
Antes de colocar aqui o porquê da recomendação desta obra, gostaria de assumir publicamente o meu preconceito e aversão à Manga. Para o comum Ocidental, a ideia que passa é que a Manga consiste num grupo de cyborgs a lutarem uns com os outros, de uns seres de outro planeta que quando se irritam mudam a cor do seu cabelo de negro para louro platinado, ou mesmo de donzelas voluptuosas sendo perseguidas por monstros fálicos. Porém, sou uma pessoa tolerante, e agora sei ver que Manga não é só isso. Apresento-vos O Homem Que Caminha.

Desde há uns meses para cá que o Correio da Manhã tem vindo a publicar aos Sábados uma colecção de banda desenhada intitulada Série Ouro – Os Cássicos da Banda Desenhada. Se bem que uma boa parte dos livros publicados possuirão uma qualidade discutível, volta e meia aparecem umas excelentes surpresas pelo meio. No passado dia 31 do mês passado, saiu um livro de um autor que desconhecia totalmente, intitulado A Arte de Jiro Taniguchi. Segundo a pequena biografia incluída neste livro, Taniguchi é a mais importante figura do movimento denominado Nouvelle Mangá, movimento esse que procura ligar a Bd Europeia à Japonesa. Conhecendo um sucesso estrondoso na França, O Homem Que Caminha será a sua obra mais aclamada. A arte atinge um detalhe impressionante, variando os materiais e técnicas conforme o efeito desejado, e a candura dos gestos, bem acompanhada pela quase total ausência de diálogos aumenta a expressividade deste livro. Segundo o autor, “O objectivo era ir transmitindo os sentimentos e pensamentos do protagonista através das paisagens que se vêem, com a natureza a reflectir os diferentes estados de espírito do herói.”

Aqui, fala-se de um homem de meia idade que passeia pela infernal Tóquio, enquanto perde o seu tempo observando os pormenores mais simples e banais, tornando-os contemplativos, lindos e poéticos. Atente-se ao exemplo de uma das primeiras histórias, em que o homem encontra uns meninos que perderam o seu avião de papel no topo de uma árvore. O homem sobe a árvore, encontra o avião, devolve-o às crianças... E fica sentado na árvore até anoitecer, observando a paisagem...



À medida que se vai lendo este livro, a sensação de paz envolve-nos e deixa-nos num estado de relaxamento total. O Homem Que Caminha é, contra todas as minhas expectativas, a melhor obra saída desta colecção, e um dos livros mais bonitos que tive o prazer de ler. Para adquirir esta obra, contactem o Correio da Manhã ou procurem-no nas bancas dos jornais. Muitos números antigos desta Série de Ouro podem ainda ser encontrados um pouco por todo o lado, e este concerteza não será excepção.

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LITERATURA DE CULTO 6: O LIBERTINO PASSEIA POR BRAGA, A IDOLÁTRICA, O SEU ESPLENDOR

quinta-feira, novembro 03, 2005
Portugal é um país pequeno, de brandos costumes, como se costuma dizer... O que não impede que não tenhamos o nosso próprio escritor maldito! E esse escritor maldito dá-se pelo nome de Luiz Pacheco...



Pacheco iniciou-se na escrita em 1946, com História Antiga e Conhecida. Antes disso tinha sido agente da Direcção Fiscal de Espectáculos e jornalista em variados matutinos. O seu estilo irreverente era apelidado de “ordinário” e foi em diversas ocasiões perseguido pela PIDE/DGS, chegando mesmo a ser preso. A sua luta contra a censura terminou vitoriosa após o 25 de Abril de 1974. Curiosamente, a sua fama como escritor “difícil” ganhou uma injecção de força momentânea, e os seus livros passaram a ser alvo de um outro tipo de censura, a censura intelectual, empurrando este homem para um estado de semi-anonimato... Porém, ainda hoje, quase cego e carregado de doenças, Luiz Pacheco continua a escrever as suas críticas e os seus romances e contos no seu quarto num lar de terceira idade... Resiste heroicamente contra uma morte inevitável, gozando com todos nós como só ele sabe. Sinto que quando falecer virão imensas figuras públicas dizer que se perdeu um vulto do panorama literário português, que Luiz Pacheco foi o maior, que todos foram os seus maiores fãs... Mas agora ninguém parece importar-se com um velho deixado a apodrecer num lar de idosos...

Hoje, trago-vos O Libertino Passeia por Braga, A Idolátrica, O Seu Esplendor, a obra que eu considero ser a melhor introdução ao imaginário de Luiz Pacheco. Editado originalmente em 1970, O Libertino tornou-se uma ode à sua cidade natal, a famosa cidade dos "três P", e um retrato exacto de Portugal nos anos 60, que, vendo bem as coisas, não mudou assim tanto. O culto à volta desta obra cresceu graças aos Mão Morta, que se basearam neste livro para a música O Divino Marquês.

Esta é a estória curta de um homem gasto e decadente que havia sido libertino nos seus tempos de juventude. Ao ter recebido a visita da morte, e temendo pelo final dos seus dias, o homem resolve sair por Braga para procurar uma moça jovem com a qual se possa satisfazer sexualmente, enquanto distribui livros na sua biblioteca móvel para contribuir para a alfabetização de um país em plena Idade das Trevas. O seu comportamento alterna entre o cão com cio atrás de cadelas e o pedreiro de andaime a mandar piropos a quem passa.

“Mas passam por mim duas miúdas: uma, grande cu descaído, badalhoca de cara, trouxa de carne a dar às pernas - é a que me tenta; outra, muito compostinha no trajar, casaco preto, saia branca ou creme, muito viva, muito espevitada. Atiro pontaria na badalhoca, a ver se avanço depressa o negócio, jogando no ganha-perde da beleza física e no cálculo das probabilidades dos complexos das feias. Vou-as seguindo, de rabo alçado como um garanhão, e a gorduchona já me topou.”

A estória é contada na primeira pessoa, em registo de diário. Dá a sensação que tudo isto aconteceu mesmo ao velho Pacheco, e, pelas entrevistas que tive o prazer de ler, não duvido mesmo nada.

Parece que actualmente, O Libertino está fora de circulação, bem como a maior parte das obras mais antigas de Pacheco. Como raramente vi algo deste senhor à venda em livrarias, aconselho a visita a bibliotecas municipais. O Libertino está de certeza na biblioteca de Leiria (foi onde o li pela primeira vez), e na biblioteca de Peniche existe uma antologia poética, sem ordinarices. Caso não estejam interessados em sair de casa e não podem (sobre)viver sem internet mais do que duas horas, podem clicar aqui e ler O Libertino no conforto do vosso lar, totalmente grátis! Neste site existem mais alguns textos da autoria de Luiz Pacheco, portanto, nada melhor do que guardar este site nos favoritos e saboreá-lo em doses pequenas...

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