meta name="robots" content="noindex" /> Contraculturalmente: abril 2007



MÚSICA DE CULTO 23: REGINA SPEKTOR

quinta-feira, abril 26, 2007
De origem Russa, emigrada para os Estados Unidos em pequena, judia praticante, pianista com educação clássica, punk na atitude, eis Regina Spektor.



Regina Spektor nasceu em Moscovo, em 1980, onde viveu até 1989, altura em que se deu a Perestroika. A partir desse momento, o clã Spektor deixou a pátria-mãe e viajou pela Austria e Itália até assentar no típico bairro Nova-Iorquino do Bronx. Aqui, Regina começou a desenvolver a sua técnica de piano, ao mesmo tempo que criava músicas e letras que raramente eram transpostas para papel e pauta.

A sua estreia discográfica dá-se em 2001 com 11:11, um disco autoproduzido distribuído praticamente apenas nos seus espectáculos. Seguiu-se Songs, em 2002, que conheceu o mesmo destino. Em 2004, o album Soviet Kitsch foi promovido numa tour conjunta com The Strokes, o que garantiu o aumento da base de seguidores desta menina, até que em 2006 o seu album Begin to Hope invadiu finalmente o mainstream, valendo-lhe o reconhecimento como artista e song-writter que tardava em chegar. Hoje em dia, Regina Spektor é um nome a ter em conta na chamada corrente musical anti-folk, com todo o mérito.

Destaco da sua discografia o album Soviet Kitsch, de 2004, unicamente por ser o meu preferido e aquele que me agarrou primeiro (não tirando com isto valor aos outros discos de Regina).



Soviet Kitsch, o terceiro registo discográfico de Regina Spektor, é um album honesto e simples. Tirando um ocasional arranjo de cordas numa ou noutra música, uma guitarra e bateria completamente fora de tempo na canção Your Honor e uma baqueta batendo violentamente numa cadeira em Poor Little Rich Boy, o que aqui encontramos é uma menina reguila com a sua voz, o seu piano e as suas histórias para contar.

As músicas deste album encerram pequenos contos, com muito non-sense, brincadeiras com sinónimos e referências literárias e bíblicas. Um exemplo dessa capacidade teatral encontra-se na faixa The Ghost of Corporate Future, que conta a história de um homem desprovido de valores que de repente ganha uma alma e se descalça em plena rua a cada oportunidade. Já em Chemo Limo, ouvimos o relato de alguém com um cancro terminal que gasta o dinheiro dos seus tratamentos num último passeio de limosina. As influências judia e Russa encontram-se meio camufladas nas suas composições, assumindo-se no entanto na soberba The Flowers, que evolui de uma peça de música quase considerada erudita para a festa de uma "Hava Naguila".

Soviet Kitsch é um album que, pese a sua simplicidade, poderá soar estranho e pouco apelativo ao ouvinte ocasional. A amplitude vocal de Regina, que pode ir do som mais agudo ao mais grave em milésimas de segundo, bem como os grunhidos, zumbidos e murmúrios tornam cada música deste disco única e imprevisível. Mas, uma vez que a sua música ganha um lugar dentro de nós, torna-se muito difícil abandoná-la. Fica, cresce, evolui e eleva-nos. Agora que finalmente foi editado na Europa, Soviet Kitsch é um album a descobrir com urgência.


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25 de Abril SEMPRE!

quarta-feira, abril 25, 2007


Imagem emprestada pelo TóColante. Visitem-no para mais, muito mais!

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BD DE CULTO 23: COMPLETELY PIP AND NORTON

terça-feira, abril 24, 2007
Dave Cooper é um reputado artista, conhecido pelos seus quadros anti-eróticos de mulheres obesas com grandes dentes. Gavin McInnes é um indivíduo que deveria estar preso e considerado inimigo nº1 da moral e bons costumes. Em vez disso, fundou a Vice Magazine, uma revista gratuita dedicada às artes independentes, tendo publicado interessantes guias para a vida moderna como Bukkake On My Face: Welcome to the Ancient Tradition of the Japanese Facial e The Vice Guide to Eating Pussy . Dave Cooper providencia a arte para o argumento (?) de Gavin McInnes, neste extravagante Completely Pip and Norton, volume 1 (uma colecção no total de um volume).



Completely Pip And Norton inclui uma recolha de tiras humorísticas de qualidade variável originalmente impressas na infame Vice Magazine, e três histórias completas. Na primeira, a dupla tenta inventar esquemas com o intuito de angariar fundos para a obtensão de um brinquedo de seu nome Rondo's Spinning Buddha With Flaming Zycrobe Action And Patented Spin-O-Rama Rotation, esquemas esses que passam pela abertura de um restaurante para cães e pela venda de limonada.



Na segunda história, Pip decide calçar as peúgas de Norton, e como consequência da elevada toxicidade do chulé humano, perde toda a carne do rosto. Um cientista megalómano, Dr. Vlad, persegue os dois amigos para lhes roubar as meias, itens fundamentais para o domínio planetário. Na derradeira história, Pip, um eterno apaixonado por Barbra Streisand, logo após ser libertado da prisão por alegadamente se recusar a alistar-se para combater na guerra contra Portugal, assassina uma velhota e esconde-a debaixo da almofada da amada para conquistar o seu afecto.

Tanto o estilo artístico e humorístico como as características de Pip e Norton são claramente inspirados em Ren & Stimpy, apesar de Ren ser um gato e Stimpy um Chihuahua, enquanto que Norton é um humano flutuante e Pip é uma... coisa. Porém, Dave e Gavin levam a experiência até ao limite do aceitável, utilizando toda uma paleta de cores berrantes totalmente diferentes de quadradinho para quadradinho, alterando o lettering dos diálogos frequentemente, incluindo vinhetas totalmente escritas em Coreano, usar e abusar dos fluidos corporais... Ler Completely Pip And Norton é uma experiência perturbadora e surreal (no sentido Acid Trip da coisa), como se estivéssemos a ler um desenho animado. Nunca pensei que piadas escatológicas pudessem vir em tantas cores e feitios. Uma leitura divertida, para mentes pouco impressionáveis e estômagos fortes.

Mulheres obesas com grandes dentes em www.davegraphics.com
Insanidade em
http://www.viceland.com

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LITERATURA DE CULTO 23: WOODY ALLEN PROSA COMPLETA

segunda-feira, abril 23, 2007
Gostava de escrever sobre outros géneros literários. Gostava de conseguir escrever sobre o Moby Dick e o Guerra e Paz. Gostava de escrever sobre o Kafka (um dia aventuro-me). Gostava de escrever sobre a gloriosa Laranja Mecânica do Anthony Burgess e de como o livro está a anos-luz do filme (para melhor). Mas o que acontece é que ultimamente só tenho lido livros assumidamente humorísticos, com potencial humorístico mesmo sem o ser (alguém leva a sério o livro do Rambo?), sobre humor e infantis. É o que compro e o que mais prazer me tem dado a ler. Eu, que até sou considerado um tipo com mau feitio. Os meus colegas de trabalho apelidam-me carinhosamente de "besugo trombudo".

Posto isto, e visto que hoje se comemora o Dia Mundial do Livro, este mês levam com um livro de humor escrito por um realizador de cinema, e para o mês que vem levam com um livro infantil. Para não quebrar muito a rotina.

O livro deste mês chama-se Woody Allen Prosa Completa, e foi escrito por Woody Allen, que é o senhor que se encontra na fotografia abaixo:



Woody Allen Prosa Completa reúne num só volume as três colectâneas de humor do afamado músico/cineasta/actor/escritor/dramaturgo: Para Acabar de Vez com a Cultura (Getting Even, de 1971), Sem Penas (Without Feathers de 1975) e Efeitos Secundários (Side Effects, de 1980), num total de 52 histórias curtas, peças de teatro, correspondência fictícia e entradas enciclopédicas fantasiosas.

Impregnada pelo neurótico non-sense que caracteriza Mestre Allen, esta antologia deve ser obrigatoriamente digerida em doses muito pequenas, de modo a se poder apreciar com calma todos os pormenores e devaneios presentes em cada texto.

Destaco, em Para Acabar de Vez Com A Cultura, a peça de teatro A morte chama, em que um senhor engana a morte vencendo-a num jogo de cartas. Em Efeitos Secundários, o destaque vai para O homem mais superficial do Mundo, um relato sobre um indivíduo que evita a todo o custo visitar um seu amigo moribundo no hospital, até ao dia em que o faz e se apaixona por uma enfermeira, passando a visitar o amigo mais por egoísmo do que por compaixão. Em Sem Penas, ressalva para Se os impressionistas tivessem sido dentistas, um troca de correspondência entre o afamado dentista Vincent Van Gogh e o seu irmão e patrocinador Theo.

Deixo-vos com um excerto, também de Sem Penas, de um texto intitulado Fábulas fantásticas e animais míticos:

O grande «roe»

O grande roe é um animal mitológico com cabeça de leão e corpo de leão, mas sem serem do mesmo leão. O roe tem fama de dormir mil anos para depois surgir em chamas, especialmente se estava a fumar ao deitar-se.

Diz-se que Ulisses acordou um roe aos seiscentos anos, mas este mostrou-se apático e mal-humorado, pedindo-lhe que o deixasse ficar na cama mais duzentos anos.

O aparecimento de um roe é geralmente considerado coisa nefasta e costuma anteceder um tempo de miséria ou a notícia de uma festa de sociedade.

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Ajudem a Belinha!

domingo, abril 22, 2007



Gostam deste selo? Eu acho-o lindíssimo. Pois bem, este selo não existe (pelo menos enquanto selo). Mas pode muito bem vir a existir. Tudo o que têm a fazer é dar uma vista de olhos neste post e seguir as instruções. E divulgar o bonito esforço da Belinha. Ajudem-na a tornar este selo numa realidade. Passem a palavra.

E passem também os olhos pelo blog da Belinha, inteiramente dedicado às colagens. O link é papelustro.blogspot.com...

Edit: Para votar, cliquem aqui!

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OUTROS CULTOS 22: FEIO

sexta-feira, abril 20, 2007
No capítulo da venda de comida em roulottes, várias são as que fizeram história. O omnipresente "Psicológico" já foi responsável por centenas de casos de intoxicação alimentar, e a qualidade extrema dos pães com chouriço servidos no Setubalense "Furgão" é já lendária. O acto de "fazer a cama ao estômago" é um automatismo do late-night Português.

Em Leiria, a roulotte que mais se destaca sobre a concorrência dá pela designação de Feio. Num genial golpe de marketing, o proprietário resolveu transformar as suas fraquezas em forças, utilizando o facto de ser um indivíduo nada favorecido pelos padrões actuais da beleza para projectar o seu negócio. Para além desse factor, a qualidade, quantidade e variedade dos seus produtos (nomeadamente a picanha e a bifana grelhada) garantem a estes senhor quantidades avultadas de clientes noite após noite.

Iluminado, este génio da carne com pão lançou recentemente um novo e inovador serviço, tornando-se sem sombra de dúvida no maior Rei da Bifana que a cidade do Liz alguma vez teve!

Quem frequenta roulottes de bifanas às 4 da manhã sabe bem o que custa arrastar-se até casa com um belo naco de carne, pão e molhos sortidos alojados no estômago, especialmente depois de uma noite intensiva de bebidas de teor alcoólico elevado. Não poucas vezes, o bolo alimentar acaba espalmado no passeio, inglórios 5 euros mal gastos para serem regurgitados sem apelo nem agravo.

Atento às necessidades do jovem frequentador de vida nocturna e do estudante que queima as pestanas a jogar Battlefield e Medal of Honor estudar até às tantas, o Feio resolveu criar um novo e revolucionário serviço: o TELEFEIO!!!!!!!!


O flyer está rasurado e sujo de ketchup. Foi o que se pode arranjar.

Exactamente, o Telefeio! A bifana personalizada, sem custos adicionais, entregue ao domicílio em 20 minutos e com os molhos colocados à vista do cliente! Se temos a comida chinesa e a pizza entregue em casa, porque não também a bela da lusitana bifana? Feio, sério candidato a empresário do ano! Quem não gostaria de ter uma telebifana na sua cidade/vila/aldeia/lugar?

FILME DE CULTO 22: 300

segunda-feira, abril 16, 2007
Na categoria cinéfila de adaptações de banda desenhada, dois dos maiores gigantes da 9ª Arte têm tido percursos muito diferentes. Os filmes baseados nas obras de Alan Moore, talvez porque o mesmo sempre se opôs vigorosamente a estas adaptações, situam-se regra geral entre o fracasso de bilheteira (quando adaptados literalmente) e o sucesso relativo (quando alterados de forma tão radical que se torna difícil encontrar paralelos entre a banda desenhada e a sua consequente adaptação). No entanto, Moore é um genial argumentista de banda desenhada, tido como quase cinematográfico na sua escrita.

O percurso de adaptação da obra de Frank Miller ao cinema é bem diferente. Quando os filmes são vagamente baseados na sua obra (relembrando os horríveis flops de Daredevil e Elektra), o resultado final alterna entre o enfadonho e o asqueroso. Porém, as adaptações mais fiéis do seu espólio artístico resultam em grandes filmes. Veja-se o exemplo do mais recente filme de Batman, baseado na sua graphic novel Batman: ano I. Veja-se o aclamadíssimo Sin City. E veja-se agora (no cinema, se possível) o mais recente 300.



300 narra com contornos de lenda fantástica os acontecimentos reais da batalha de Thermopylae, onde Leónidas I, Rei de Esparta, contando apenas com a sua guarda pessoal de 300 soldados e alguns aliados de outras cidades-estado gregas, procura impedir a invasão persa comandada pelo Imperador Xerxes e o seu grandioso exército.

Filmado essencialmente em bluescreen, 300 captura na perfeição os cenários e planos incluídos na obra de Miller. Nota especialmente alta para a caracterização. Gerard Butler e Rodrigo Santoro são perfeitas aparições em carne e osso de Leónidas e Xerxes, respectivamente.



Completando a experiência cinematográfica, esta adaptação conta com novos elementos originalmente ausentes da Graphic Novel original, mas com alguma pertinência histórica, nomeadamente sobre a importância das mulheres na sociedade Espartana. Gorgo, a esposa do rei Leónidas, praticamente ausente na banda desenhada, possui aqui um papel de relevo pelas suas acções diplomáticas junto do senado Espartano, sendo a frase "Apenas as mulheres Espartanas dão à luz homens" atribuída historicamente a esta rainha. Outra citação directa, "Volta com o teu escudo ou em cima dele", é geralmente aceite como despedida das esposas de Esparta aquando da partida dos seus maridos para a guerra.

300, o filme, é um épico à antiga, deixando passar um certo sentimento camp após o seu visionamento. A grandiosidade das batalhas e os relatos de engenho, crueldade e coragem da falange Espartana, à mistura com a relação intensa entre o Rei Herói e o Rei Vilão e os aspectos mitológicos introduzidos levam-nos aos filmes históricos de antigamente. A brilhante realização de Zack Snyder arrasta as nossas mentes directamente para dentro da acção do filme, fazendo-nos por momentos sentir o aroma do sangue e o peso dos escudos. 300 faz-nos sentir Espartanos durante praticamente duas horas. Um mimo para fãs de banda desenhada, um excelente filme para todos os outros.



Trailer:

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