LITERATURA DE CULTO 16: QUANDO É QUE JESUS TRAZ AS COSTELETAS?
George Carlin é um dos mais irreverentes, chocantes e agressivos comediantes de stand-up do momento. Na sua natureza céptica e mal-humorada reside o seu talento, que o distingue dos seus pares, tendo sido eleito pela Comedy Central como o segundo maior comediante de stand-up de todos os tempos. Com uma carreira iniciada nos idos anos 60, este senhor conta no seu curriculum variadas edições discográficas, uma pouco respeitável filmografia e ainda a edição de alguns polémicos livros humorísticos. Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? é o seu trabalho mais recente.
No passado era assim: «O velho morreu... Por isso, o cangalheiro veio buscar o cadáver, levou-o para a capela mortuária e meteu-o num caixão. As pessoas mandaram flores e fizeram um velório. Depois do funeral, puseram o caixão num carro funerário e levaram-no para o cemitério onde acabaram por enterrar o morto numa cova.»
Hoje, nestes dias de sensibilidade acrescida, a mesma série de eventos transformou-se em algo que soa a uma experiência completamente diferente: «O idoso faleceu. Por isso, o agente funerário veio ocupar-se dos restos mortais do falecido, transportou-os para a agência funerária e introduziu-os numa urna. Os enlutados enviaram lembranças florais para serem exibidos numa sala, onde o corpo ficará em câmara ardente. A seguir ao elogio fúnebre, o veículo funerário transporta o falecido para o cemitério onde os seus restos mortais são depositados na morada final.»
Hã? O que foi? Alguém morreu ou quê?
De mau gosto e perverso, Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? é um grande livro. Uma peça essencial em qualquer colecção, um título blasfemo que decorará qualquer estante com brilho próprio. Garantam o vosso lugar no Inferno ao lado de George Carlin, procurem-no já!
MARIA: Zé, vamos ter um bebé.
ZÉ: O quê? Não pode ser. Eu só to esfrego entre as coxas.
MARIA: Pois... não sei. Deve ter havido um imprevisto qualquer.
ZÉ: Quem disse que estás grávida?
MARIA: Um anjo que me apareceu no quintal.
ZÉ: Um anjo?
MARIA: Um anjo do Senhor: Chamava-se Gabriel. Tinha uma trombeta e apareceu-me no quintal.
ZÉ: O quê?
MARIA: Apareceu-me.
ZÉ: Estava nú?
MARIA: Não. Acho que tinha uma gabardina. Não sei bem. Brilhava muito e não dava para ver bem.
ZÉ: Maria, tu não andas bem. Porque não tiras uns dias de folga? As contas da loja podem esperar.
MARIA: Estou-te a dizer, Zé. O Anjo Gabriel disse-me que o Senhor quer que eu tenha o filho Dele.
ZÉ: Pediste para te mandarem um sinal qualquer?
MARIA: Claro que sim. E ele disse-me que amanhã ia começar a ficar enjoada.
ZÉ: Mas porque é que Deus quer um puto?
MARIA: Bom... o Gabriel disse que, de acordo com o Lucas, tem a ver com o ego. Além disso, parece que prometeu aos judeus mas esteve sempre muito ocupado até agora. Mas agora que finalmente se sente preparado para ter filhos, não quer limitar-se a fazer um de barro ou pó. Quer que haja humanos envolvidos no processo.
ZÉ: E está a pensar ajudar nas despesas? Deus sabe que não podemos sozinhos. Dava-me jeito uma loja maior e podia arranjar-me uns daqueles contratos para fazer cruzes. Os romanos andam a pregar toda a gente a que deitam as mãos.
MARIA: Querido, o Gabriel disse que não há motivo para preocupações. O miúdo tem a vida feita. Vai ser um excelente orador e ter jeito para milagres.
ZÉ: Ao menos isso. Olha lá, agora que estás oficialmente grávida, achas que podemos... passar à acção a sério?
MARIA: Desculpa, querido. Deus quer que isto seja um parto de uma mãe virgem.
ZÉ: Não estou a perceber.
MARIA: É mesmo isso que ouviste, Zé.
ZÉ: Quer dizer que não posso fazer nada?
MARIA: Ele quer que arranjes um nome para o miúdo.
ZÉ: Cristo!
MARIA: Boa, Zé. És o maior!
Desaconselhado para quem se possa ofender com humor religioso, Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? compila excertos de actuações de George Carlin, bem como novo material. Apesar do titulo, nem só de religião vive este livro. Encontramos por aqui, entre muitos outros variadíssimos assuntos, humor sobre Michael Jackson, alusões ao terrorismo, glorificação da mesquinhez do ser humano, dicas para assassinos em série, piadas sobre certas realidades Americanas que felizmente nos passam ao lado e muita prosa sobre o ódio de Carlin para com a moda dos eufemismos politicamente correctos.ZÉ: O quê? Não pode ser. Eu só to esfrego entre as coxas.
MARIA: Pois... não sei. Deve ter havido um imprevisto qualquer.
ZÉ: Quem disse que estás grávida?
MARIA: Um anjo que me apareceu no quintal.
ZÉ: Um anjo?
MARIA: Um anjo do Senhor: Chamava-se Gabriel. Tinha uma trombeta e apareceu-me no quintal.
ZÉ: O quê?
MARIA: Apareceu-me.
ZÉ: Estava nú?
MARIA: Não. Acho que tinha uma gabardina. Não sei bem. Brilhava muito e não dava para ver bem.
ZÉ: Maria, tu não andas bem. Porque não tiras uns dias de folga? As contas da loja podem esperar.
MARIA: Estou-te a dizer, Zé. O Anjo Gabriel disse-me que o Senhor quer que eu tenha o filho Dele.
ZÉ: Pediste para te mandarem um sinal qualquer?
MARIA: Claro que sim. E ele disse-me que amanhã ia começar a ficar enjoada.
ZÉ: Mas porque é que Deus quer um puto?
MARIA: Bom... o Gabriel disse que, de acordo com o Lucas, tem a ver com o ego. Além disso, parece que prometeu aos judeus mas esteve sempre muito ocupado até agora. Mas agora que finalmente se sente preparado para ter filhos, não quer limitar-se a fazer um de barro ou pó. Quer que haja humanos envolvidos no processo.
ZÉ: E está a pensar ajudar nas despesas? Deus sabe que não podemos sozinhos. Dava-me jeito uma loja maior e podia arranjar-me uns daqueles contratos para fazer cruzes. Os romanos andam a pregar toda a gente a que deitam as mãos.
MARIA: Querido, o Gabriel disse que não há motivo para preocupações. O miúdo tem a vida feita. Vai ser um excelente orador e ter jeito para milagres.
ZÉ: Ao menos isso. Olha lá, agora que estás oficialmente grávida, achas que podemos... passar à acção a sério?
MARIA: Desculpa, querido. Deus quer que isto seja um parto de uma mãe virgem.
ZÉ: Não estou a perceber.
MARIA: É mesmo isso que ouviste, Zé.
ZÉ: Quer dizer que não posso fazer nada?
MARIA: Ele quer que arranjes um nome para o miúdo.
ZÉ: Cristo!
MARIA: Boa, Zé. És o maior!
No passado era assim: «O velho morreu... Por isso, o cangalheiro veio buscar o cadáver, levou-o para a capela mortuária e meteu-o num caixão. As pessoas mandaram flores e fizeram um velório. Depois do funeral, puseram o caixão num carro funerário e levaram-no para o cemitério onde acabaram por enterrar o morto numa cova.»
Hoje, nestes dias de sensibilidade acrescida, a mesma série de eventos transformou-se em algo que soa a uma experiência completamente diferente: «O idoso faleceu. Por isso, o agente funerário veio ocupar-se dos restos mortais do falecido, transportou-os para a agência funerária e introduziu-os numa urna. Os enlutados enviaram lembranças florais para serem exibidos numa sala, onde o corpo ficará em câmara ardente. A seguir ao elogio fúnebre, o veículo funerário transporta o falecido para o cemitério onde os seus restos mortais são depositados na morada final.»
Hã? O que foi? Alguém morreu ou quê?
De mau gosto e perverso, Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? é um grande livro. Uma peça essencial em qualquer colecção, um título blasfemo que decorará qualquer estante com brilho próprio. Garantam o vosso lugar no Inferno ao lado de George Carlin, procurem-no já!
Etiquetas: George Carlin, Literatura, Quando é que Jesus traz as Costeletas?
Vou procurar que isto parece-me bem catita...
setembro 19, 2006
ehehheheheh
:)
Papo-seco
novembro 06, 2007
Este já comprou seu terreno no inferno. Comprarei esta drágea, e toda vez que der uma cagada, vou levá-lo para degustá-lo silenciosamente. fi-lo por que qui-lo. wowowowow
M. Frm Brasil
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